- Quem sou eu? - Essa foi a primeira
pergunta que fiz quando retomei a consciência.
Eu
estava deitado, molhado e sentia dores por todo corpo. Havia areia e água
salgada na minha boca, nos meus olhos e nos meus ouvidos e meu corpo era sacudido
por violentas ondas.
Lutei
contra a dor e me arrastei pela areia até onde a água não podia me alcançar.
Demorei algum tempo pra conseguir abrir os olhos que ardiam e reclamaram da
intensa claridade. Quando finalmente consegui enxergar, surgiu a segunda
pergunta:
- Onde estou?
A
resposta poderia ser: estou numa praia,
porém, embora fosse realmente uma praia, não parecia nada com uma. A segunda
pergunta então se transformou em o que
aconteceu aqui?
Ignorando
as dores, me sentei e tentei organizar os pensamentos. Refleti por muito tempo.
Uma hora? Duas? Não sei ao certo. Minha cabeça doía. Eu não conseguia lembrar
de quem eu era e muito menos podia entender o que eu estava vendo, porque para onde
eu olhasse, só via destruição.
Aquela
praia não tinha um visual paradisíaco que em minha memória eu acreditava que
todas as praias deveriam ter. O cenário era de caos e desolação: ou o mar engolira
uma cidade, ou a cidade fora lançada no oceano.
Eu
estava na areia e atrás de mim, o vestígio do que um dia fora uma rua. Destroços,
escombros e prédios destruídos para todos os lados, inclusive dentro do mar.
Nada fazia sentido.
O tempo
passou e o sol atingiu seu ápice para deixar o mundo praticamente sem sombras. O
calor ficou quase insuportável e por isso me arrastei para me proteger sob um
grande bloco de pedra. Ali dormi, não sei por quanto tempo, talvez um dia e uma
noite, não sei. Quando acordei percebi que o frio deixara o meu corpo dormente,
o que não era ruim, considerando a dor que eu sentia antes de dormir. Era
difícil respirar aquele ar frio que me queimava a garganta e os pulmões. Dormi
de novo.
Não
duvido de que eu ficaria dormindo ali, sob o bloco de pedra, até esgotar o
resto de vida que havia em mim, mas descobri que meu destino não era morrer daquela
forma. Talvez porque eu precisava, antes de morrer, de pelo menos responder às
duas perguntas. Então, quando minhas energias já estavam quase completamente
esgotadas, fui despertado por uma forte chuva e percebi imediatamente que
aquilo era justamente o que meu corpo mais precisava: água doce.
Beber
água me trouxe um bem estar que eu não lembrava de ter sentido antes e despertou
também a minha fome. O meu corpo já não doía tanto e isso me impulsionou a me
levantar para procurar comida.
Andei
por várias horas, por vários dias e noites. Eu andei sem parar e eu só via
destruição por todos os lados. Não vi ninguém. Não vi nada vivo.
E assim
eu fui vivendo, vagando pelo mundo deserto e destruído. Eu comia o que a
natureza me proporcionava, o que não era muito, e procurava por algo que
pudesse me dar as respostas.
Talvez
eu já estivesse buscando respostas há anos, e antes que eu pudesse encontrar
qualquer uma, surgiu a terceira pergunta e com ela surgiu imediatamente a
necessidade de não me prolongar nas buscas por respostas.
Encontrar
a terceira pergunta ao invés de qualquer resposta, me fez enxergar que eu não
encontraria resposta alguma, por isso decidi que não irei mais procurá-las. Escrevo
esta carta certo de que ela jamais será lida. Portanto não direi aqui qual é a
terceira pergunta. Estou me despedindo desse mundo e me despeço com uma
resposta, pois de perguntas já estou cheio!
A
resposta é: eu não serei mais o único. Agora sim o mundo fará sentido, sem a
minha presença. Adeus perguntas, adeus.
Eu escrevi esse pequeno conto em 2010. Pra não deixá-lo simplesmente esquecido no HD, compartilho ele aqui com vocês.
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