Foi um breve momento de distração, um movimento mal calculado, um instante em que seu pé esquerdo, como se possuísse vontade própria, deu um beijo certeiro, daqueles roubados e estalados, no pé da cadeira da sala de jantar.
O homem não aguentou. A mãe da cadeira se livrou da ofensa, mas alguns palavrões foram balbuciados involuntariamente. Perdoemo-lo, pois foi uma topada daquelas que doem tanto que nem mesmo um homem santo conseguiria manter a postura.
A dor veio instantaneamente e percorreu seu corpo da ponta dos pés até a cabeça e quando chegou nesta, retirou dela qualquer resquício de racionalidade. Após a topada, o homem sentiu um misto de inconformismo e raiva.
Sem pensar, impulsionado pela agonia, na vã tentativa de descontar a agressão sofrida, ele utilizou o seu pé direito para chutar o sofá. Justamente aquele pobre objeto que não teve culpa alguma do ocorrido. De qualquer forma, o sofá não deixou barato. Isaac Newton já dizia que a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade, e o sofá não teria a audácia de negar os fundamentos da mecânica. O pé direito do homem doeu... Mas doeu tanto que ele até se esqueceu da dor no pé esquerdo.
Chutar o sofá, além de não amenizar qualquer sofrimento, o obrigou a usar, ao invés de uma só, duas compressas de gelo.
Enfim o homem aprendeu: a vingança não compensa.
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