quarta-feira, 15 de junho de 2016

A Topada



– Ai! – Gritou o homem e em seguida se conteve para não xingar a mãe da cadeira.

Foi um breve momento de distração, um movimento mal calculado, um instante em que seu pé esquerdo, como se possuísse vontade própria, deu um beijo certeiro, daqueles roubados e estalados, no pé da cadeira da sala de jantar.
 

O homem não aguentou. A mãe da cadeira se livrou da ofensa, mas alguns palavrões foram balbuciados involuntariamente. Perdoemo-lo, pois foi uma topada daquelas que doem tanto que nem mesmo um homem santo conseguiria manter a postura.

A dor veio instantaneamente e percorreu seu corpo da ponta dos pés até a cabeça e quando chegou nesta, retirou dela qualquer resquício de racionalidade. Após a topada, o homem sentiu um misto de inconformismo e raiva.

Sem pensar, impulsionado pela agonia, na vã tentativa de descontar a agressão sofrida, ele utilizou o seu pé direito para chutar o sofá. Justamente aquele pobre objeto que não teve culpa alguma do ocorrido. De qualquer forma, o sofá não deixou barato. Isaac Newton já dizia que a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade, e o sofá não teria a audácia de negar os fundamentos da mecânica. O pé direito do homem doeu... Mas doeu tanto que ele até se esqueceu da dor no pé esquerdo.

Chutar o sofá, além de não amenizar qualquer sofrimento, o obrigou a usar, ao invés de uma só, duas compressas de gelo.
 

Enfim o homem aprendeu: a vingança não compensa.

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